domingo, 12 de outubro de 2014

Muito deste muito pouco

Um pouco de mim é pensamento
e um pouco é escada sem fim
Um pouco é fórmula,
canção e fantasma.
               métrica e ritmo.

Um pouco de mim é “verbo-poético”,
e outro pouco é medo e esperança.
Um pouco é letra,
                   espaço e história.

Um pouco de mim é ruga
                                      e saudade...
Um pouco é desejo,
                             loucura,
                             falta,
                             e outra vez escada:
                                estrada e solidão...

Um pouco de mim é sem nunca Ser,
                              sem antever
e outro pouco é Vontade..

Muito deste pouco é sempre muito
Muito deste pouco é muito pouco
Muito deste pouco é pouco de outro muito. 

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Ode a uma intensa noite que nunca existiu

Minhas mãos descobrem
e encobrem teu corpo
cabelos, rosto, seios, ventre;
me encontro em cada esquina
e em cada gemido que dás.

Minha boca explora teus segredos,
teus desejos mais sombrios,
teu mudismo 
e teu vibrar. 
            
Meu hálito percorre tuas partes,
tuas costas,
tua nuca 
e teu suar.   

Meu corpo desvenda teus desejos.
Não há razão,
                         apenas ritmo... 

terça-feira, 22 de julho de 2014

Um pouco de amor

Um pouco da serra em teu reflexo,
um pouco de espera
e do teu castanho jeito de ver
- sem luz, sem esperança,
                                     sem danação.
Vermelho o beijo que não vêm.

Um pouco do teu pêlo,
      um pouco do teu gosto,
um pouco do teu pouco permanece,
                                   me enternece.

Um pouco do teu silêncio,
do teu vermelho – espelho. 
Um pouco é exagero poético,
vontade de verso
                         (grafismo que não passa).

Além do pouco é certeza de morte,
é beijo que não seca
                        resseca:
Helena espera, a espera...
                       infinita espera.

Anoiteço um dia sem amanhã
e cansado
visto-me de santo
e sem espanto
                    nego o sorriso
                            e o sorrir.

Um pouco de tudo é poema,
outro pouco
é a vida que não se deixar versar.

domingo, 6 de julho de 2014

A casa na margem do mundo

Procuro meu mundo sem casaco, espaços
ou arabescos.
Me dispo de formas, de contas e de “ismos”.

Recolho meus medos 
e a esperança que versa do pós,
puro intento pendulado na beira do abismo

Sou todo desejo e processo,
esticado entre o passado e o futuro
- maldita ânsia, dorido tremor.

Adeus à deus - lágrima tardia.
Sou todo nada, espero o Nada. 
Eu tenho tudo.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Poema sobre a falta de Mar

Me visto de cacos
de casos. Sou feito de partes,
pedaços de sim e ilhas de “não”.

Caminho sem rumo:
dois dedos de prosa,
duas gotas de esperança.
Diversas são as faces do amor.

Aprumo e saio do prumo.
Em um ponto de só
saudade sobre o papel, paixão e papel.

Rabisco lágrimas, afino poesia
e pinto sua falta

- depois da areia, "não-Mar". 

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Desabrigo (02 de fevereiro)

Acendo um cigarro
mais outro,
só para testar a fome de morte que me assola,
que me enlouquece 
e as vezes encanta.

Estou sujo,
coberto de ódio 
e desespero (infinita solidão).

É tudo vazio e mentira?
Mentiu-se sobre tudo?
Houve amor no abandono?
Sexo sobre lágrimas - ignore as lágrimas, 
o gozo é mais intenso
a mágoa também...

Não há abrigo e nem Rio para atravessar.
Os poetas estão mortos, Cecília 
não é verso e nem criança.
(a 
filha 
que 
nunca 
irei 
conhecer).

Perdido 
abandono o amor que nunca soube amar.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Do outro lado do Rio

Ontem perdi um amor, em razão,
em postas de vento
(pelos dedos escorrendo,
em partes pequenas de não).

Ontem a noite não veio.
Não veio sonho
ou esperança. Em razão,
o dia também não passou,
perdi-me no tempo - entre brumas e ilhas

Ontem, dois passos secaram,
duas estradas se perderam:
sem caminho, sem horizonte
e sem função.

Um vento invadiu o quarto,
alojou-se nos móveis e nos livros,
levantou a coberta e desligou a televisão
(não havia riso do outro lado do rio)

Refém do amor, busquei o verso,
busquei-te em verso, mas
você não estava - não me via.
               
Em partes:
um passo de ontem,
um beijo do ontem,
um ontem de amor.

depois  sem  dispôs, não-tempo;  passos  sem  paço, não-espaços; ví-vida...