domingo, 25 de novembro de 2018

Resistiremos

A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
(Carta a Stalingrado, Drummond) 
 

O céu estrelado ainda conta os feridos da última batalha,
faz frio em Stalingrado e é sempre noite na Cidade alta
Os passos dos soldados ecoam e singram o mar,
atravessado 
recomponho-me do desespero inicial - foi apenas um pesadelo?

Maldita cruz que nunca benze, que nunca basta. Aonde estás Cordeiro 
que não te revoltas pelo uso do teu nome?
Acima de tudo és Tu? Mas,
não foste tu a ceder a outra face? 
Não foste tu
que deixas-te jorrar teu sangue para que outros não o perdessem também?

Stalingrado ainda resiste, mas
não como história, não como vergonha pavorosa do ódio humano.
Stalingrado resiste em verde e amarelo
e avança sorrateiramente em tons de azul e branco.

Os telegramas não existem mais
e, tão pouco, podem nos dizer do futuro.
Por outro lado, sobre tuas memórias, 
grande cidade,
poetas irão compor a força para esta noite que durará quatro anos
- dure quantos quatros anos durar,
resistiremos.

depois  sem  dispôs, não-tempo;  passos  sem  paço, não-espaços; ví-vida...