quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Um tanto poético

Nem tanto ao céu
e nem tanto ao norte;
nem tanto ao corte suplantado
e ao peito fraco  fundamentado - subtraído,
subjugado e subalternizado.

Nem tanto ao inferno
e nem tanto ao Sul;
nem tanto a cura impositiva
e a liberdade restritiva – escancarada,
alargada e amparada.

Nem tanto? Tudo é tanto
e
eu só quero o pouco.
O pouco do beijo,
do gosto,
do corpo pesando,
de tudo que é posto
e que se imposto jamais seria.

Nem tanto? Nada é tanto.
Não cabe a forma na fôrma que pinto,
ultrapassa
– transborda, desenhando novos limites.

Nada é tanto. No entanto,
ainda,
espero encanto.


segunda-feira, 23 de setembro de 2019

                                                 à NR

O corpo,
frio corpo que já foi tão quente,
abandona-se
e leva
consigo
o sorriso largo
e os sábios conselhos.

Ficam as lembranças,
o aprendizado,
a filosofia
e o afeto.

Adeus!

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Quando a saudade não cabe no beijo,
quando o beijo não condiciona o desejo,
quando o desejo transborda dos dias,
e quando os dias não cabem na vida.

Quando conversas se tornam sagradas,
quando o sagrado é olhar,
quando o olhar é prece,
quando a prece é tudo que importa.

Quando o tempo escapa do tempo

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Último poema

Bate o Inverno em meu peito,
há de amanhecer novamente?
Não sei quando, nem sei que gente
teima em amar, mas assim é feito.

Tenho dó e dor, um vazio
que habito ou será sou habitado?
Não importa, é feito rastilho
que se permeia do amor inacabado.

Talvez tudo isso um dia acabe
e quem sabe eu ame novamente,
mas agora é a fome sua sem alarde
que me hipnotiza feito belo repente.

Onde está amor-inacabado?
A saudade se amplia na escuridão.
Já tive lembranças do seu lado,
agora eu só tenho de um Não.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Bolero para uma alma triste

Teu corpo Macondo
tua pele esperança

este corte profundo
(fantasiado de desejo):
que faz sangrar a pele,
que faz sangrar a alma,
que me fez sangrar...

Teu corpo
e o toque não sentido
e o bejio negado
e a promessa não cumprida.

Macondo
desfez-se tão rapidamente,
tão rapidamente quanto um telefonema
quanto uma noite de sexta-feira.
Tão rapidamente quanto um Adeus.

E as juras?
E o desejo?
Era falsa toda ânsia?
Não era canção a melodia tocada?

Tua pele
se enrosca nesta pele imaginária
que sobrevive equilibrando esperança
enquanto espera,
a espreita...

Maldita esperança,
encolhida acena ao tempo,
destilando brevemente a cura
e a dependência
deste amor que brota adoecido
- quarenta centímetros da coragem.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

E eles se amaram

A inspiração transvestiu-se de ousadia
e quando percebi
minha pena se movia na ânsia de escrever sobre o encontro de dois amantes.
Refletindo,
dissecando cada segundo do evento que observava,
dediquei-me ao exercício de escrever apenas o fundamental:

cortei o primeiro encontro dos olhares,
a formação do encanto inicial,
as três viradas da confirmação
e os três encontros fortuitamente calculados;

retirei a indisfarçável respiração ofegante do primeiro "oi",
o suor frio,
o nervosismo incontrolável
e o embrulho no estômago;

deixei o tempo correr livremente,
apaguei os vincos do sorriso bobo,
a alegria injustificada
e a sensação de não caber dentro de si;

detive-me apenas no que havia de mais essencial,
naquilo que, indistintamente, representava a prática de amar;

em suma, deixei no meu texto apenas o que era imprescindível.

O resultado?

E eles se amaram. 

sábado, 29 de junho de 2019

quinta-feira, 2 de maio de 2019

As vantagens e desvantagens de ser quem eu sou

Não preciso de aprovação,
não ligo para opinião alheia,
não vivo de metades,
não preciso de amor-migalha
e não tenho medo de Adeus.

As desvantagens?
Ter sido necessário desenvolver as vantagens.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Deixa quieto,
Coração.
Meu corpo é pequeno,
minha alma é serena
- deste jeito
acabo fugindo pelos poros,
transpirando 
saudade,
de tanto pensar.

depois  sem  dispôs, não-tempo;  passos  sem  paço, não-espaços; ví-vida...