quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Bolero para uma alma triste

Teu corpo Macondo
tua pele esperança

este corte profundo
(fantasiado de desejo):
que faz sangrar a pele,
que faz sangrar a alma,
que me fez sangrar...

Teu corpo
e o toque não sentido
e o bejio negado
e a promessa não cumprida.

Macondo
desfez-se tão rapidamente,
tão rapidamente quanto um telefonema
quanto uma noite de sexta-feira.
Tão rapidamente quanto um Adeus.

E as juras?
E o desejo?
Era falsa toda ânsia?
Não era canção a melodia tocada?

Tua pele
se enrosca nesta pele imaginária
que sobrevive equilibrando esperança
enquanto espera,
a espreita...

Maldita esperança,
encolhida acena ao tempo,
destilando brevemente a cura
e a dependência
deste amor que brota adoecido
- quarenta centímetros da coragem.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

E eles se amaram

A inspiração transvestiu-se de ousadia
e quando percebi
minha pena se movia na ânsia de escrever sobre o encontro de dois amantes.
Refletindo,
dissecando cada segundo do evento que observava,
dediquei-me ao exercício de escrever apenas o fundamental:

cortei o primeiro encontro dos olhares,
a formação do encanto inicial,
as três viradas da confirmação
e os três encontros fortuitamente calculados;

retirei a indisfarçável respiração ofegante do primeiro "oi",
o suor frio,
o nervosismo incontrolável
e o embrulho no estômago;

deixei o tempo correr livremente,
apaguei os vincos do sorriso bobo,
a alegria injustificada
e a sensação de não caber dentro de si;

detive-me apenas no que havia de mais essencial,
naquilo que, indistintamente, representava a prática de amar;

em suma, deixei no meu texto apenas o que era imprescindível.

O resultado?

E eles se amaram. 

depois  sem  dispôs, não-tempo;  passos  sem  paço, não-espaços; ví-vida...