quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Tempos estranhos
[fechados],
passos insanos.

Isolados.

Distópico
princípio diastólico

Baco
insistente ao diabólico

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Tudo assim,
s u s p e n s o, 
sem lugar
e causa aparente. 



Luminescência ou presença escondida

                                    A Clarice


... foi quando li Verissimo.

Deste jeito,
tomado de espanto,
percebi que você já era em mim
e que meu rosto
(filho do meu mais profundo silêncio),
era composto por tuas palavras.
 
Sou Chico sendo Clarice.


domingo, 29 de novembro de 2020

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Horizonte-quarto e rua-Morte

O tempo passa e-nada-muda. Os dias são iguais, as
horas
correm
iguais. 
Iguais: janelas-grades, portas-grades. 

Meu sono não amanhece.
Permaneço,
palíndromicamente,
pendulando entre o desespero e
a
indiferença.

Março-dezembro se aproxima,
i n c a n s a v e l m e n t e  
PERDURO. 


terça-feira, 3 de novembro de 2020

João fala de árvores, mas
Alfredo entende comunismo. Helena,
por sua vez, 
argumenta sobre sua pesquisa
e Fernando, que não entende nada do assunto,
afirma que é tudo "questão de opinião".

Francisco, poeta manquitolante,
que 
se interessa pelo o "impoderável" na vida,
sorri ao escutar que sua a poesia é obscura.


 

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Uma carta para a dama reluzente

Surdamente, 
como recomendara meu mestre, 
penetro no reino das palavras.
 
Por descuido empresto teu rosto as esquinas
e, 
involuntariamente,
acresço aos dias as marcas dos teus passos.

Surdamemte,
ano após ano,
folheio os livros que não escrevemos.
 
O tempo não passa no reino das palavras
e teu nome salta por entre letras que não encontro.
Você ainda dorme? 
 
Freud 
nos 
une
e a liberdade tem gosto de prisão.
 
Ainda não entendo sua carta, 
talvez por isso ainda escreva
e procure no texto outras formas de compreensão. 
 
No reino das palavras
o Amor se veste de silêncio para enganar os poetas.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Carta ao Poeta

Sempre me pego tentando ser o melhor que posso, mesmo tendo a pré-ciência que nada será suficiente;
por vezes tenho a impressão que sigo numa estrada que jamais terá fim, mas
isso não incomoda. Acostumado com o caminho,
projeto meus dias estacionado no “limite” das minhas possibilidades:
como amigo,
como homem,
como pessoa,
como parceiro.

Não combino as letras pela pretensa angústia que me acompanha, tão pouco “depressiono” os traços do meu horizonte (Severo horizonte),
na expectativa de dar sentido a dor que sinto
e,
com isso,
tornar-se algo para além de poeira das estrelas.
 
Reconheço os meandros revolucionários da Escrita, 
de como Shakespeare recriou o humano
e
como Clarice (armada de seu silêncio)
teorizou sobre as nossas formas de aprendizagem. Mas, 
meu texto nunca teve este Oceano de ambição. Minha “máquina literária” não diz do mundo
e da Tabacaria apenas o Café me acompanha. 

Escrevo para esquecer,
por não suportar-me. Escrevo, 
por não ter coragem suficiente para gritar, mas
ainda 
a frágil necessidade de ser ouvido.

O Amor não “resulta inútil”,
O Amor não resulta nada.

Sempre tive medo da morte, mas
hoje me aqueço na generosidade do esquecimento. 
Desintegrar-se 
é o destino de tudo, de todas as coisas,
assim como esta carta,
assim como o instante fortuito que serenamente torna-se ilusão.

A sensação de eternidade é uma Tola aspiração que oscila ante o Abismo da existência. Encarar o Nada,
foi a forma que encontrei para seguir
– o encantamento da vida é a certeza de sua finitude.

O amor não "é coisa de maduro". 
O amor não é coisa. 

Há uma beleza infinita no acaso e na combinação aleatória de átomos
que se transformam em corpos
que se transformam em gente
que se enamora fortuitamente
que se sente agraciado pelo toque inesperado do objeto Amado.

Para além dos versos, para além das coisas fugidias, 
tessitura apenas o Amor – em sua inigualável combinação química, justificando todos os esforços
a espessa tentativa de ser Melhor.

Ter a pretensão de “tornar-se poeta” é uma vaidade que me permito, mas 
que 
abandono
logo
após
o
poema.

Não existe poeta para além dos versos,
respiro apenas enquanto lido. 

domingo, 23 de agosto de 2020

Ao bruxo de ressaca

a Machado de Assis

Espero,
mãos pensas e corpo curvo,
tal qual O Itabirano,
este
que
de literato virou bruxo
e de bruxo Imortal.

Mergulho na máquina, mas
ela some
e não encontro “Cosme velho” no Mundo, vasto mundo
– não ainda, Espero.

Falta-me Poesia? Há quem diga,
eu não
(resquício da pura ousadia Juvenil).

Talvez
a idade não tenha chegado;
há um tempo para tudo,
inclusive para a Ressaca. 


domingo, 2 de agosto de 2020

Poema com o corpo

T-eu 
corpo
M-eu

Do Amor

I

"Que se espere. Não o fim do silêncio, mas o auxílio bendito de um terceiro elemento: a luz da aurora” 
(LISPECTOR, O livro dos prazeres)
 

A solidão do meu passado se esquiva,
se esguia
e, com algum esforço,
encontra a solidão do teu passado.

Todo peso da idade me afasta da espera,
mas continuo. Silenciosamente continuo
e aguardo,
procuro desafogar-me
para não inundá-la com meu amor.

O tempo do beijo não passou,
o tempo do nosso Tempo não passa jamais.
Ainda úmido pela tua boca,
ainda quente pelos teus olhos,
procuro os limites do meu corpo no teu
(ainda que distante,
ainda que distância
ainda que falta).

Dobro-me em poesia na ânsia de te compor para além dos sonhos.
Tenho medo de vê-la partir, de-fi-ni-ti-va-men-te.

Medo bobo
de ter teu corpo se desfazendo em injúrias
e distrações,
de ter teu corpo escapando pelos meus dedos.

O vento da noite atravessou a janela,
faz frio,
uma música me lembra você.


II

"Há uma maçonaria do silêncio que consistem em não falar dele e de adorá-lo sem palavras”
(LISPECTOR, O livro dos prazeres)

 
A solidão do teu passado me envolve
e
definitivamente
a f a s t a (sem cuidado algum)
a solidão que tentei dividir.

É preciso coragem para
vivenciar 

o sagrado momento do instante infinito,
o sagrado momento do silêncio
e de sua maçonaria.

O poema-inútil, o medo-inútil,
a inútil esperança que sinto
retoca as cores de um beijo que não existe mais. 

Inundado de espera, teu olhar,
repete o mesmo terço reticente:
o silêncio-vazio do não,
o silêncio-vazio do quarto,

o silêncio-vazio sem marcas.

De nada adianta dobrar-me,
este é um reino do "nós". 


Escrevo
sem
te
alcançar.

O vento da noite atravessa a janela,
faz frio,
uma música...

terça-feira, 19 de maio de 2020

O desespero e a náusea

É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
(Drummond - A flor e a náusea)

Em vão procuro matérias sobre o futuro,
não há futuro. As ilusões
e os achismos
superfaturam
escolhas
e decidem vida-morte.

Em vão
marchamos?

Procuro os traços que organizam o presente, mas
não os encontro.
O erro insone vitima majoritariamente os postos na margem
e o futuro pendula no abismo.

Do planalto ressoam clarins,
loucuras apagam o verde flâmula
e partilham o assombro. O medo grita,
gritamos todos,
mas
e daí? Todos também morrem.

Estanho é vida
e
entranha na veia,
entranha
e decide morte-vida.

Dezessete vezes as mãos reescrevem o passado,
dezessete vezes
pesa sobre a pena o terço de um tempo enlouquecido
- escrevo liberdade e tolamente lê-se vermelho.

Nenhuma flor varou a madrugada
ou o chão de concreto da grande cidade.
Florestas
queimam frente a ignorância e a planície terrena.
Astrólogos mentem,
juízes perjuram,
generais aplaudem
e o capitão realiza a gestão do medo.

A terra de meu País braseia, mas
é do sangue que colore as ruas.
Sem estrelas no céu
e sem vida nos bosques,
o "mais amores" transformou-se em ódio.
Dezessete vezes
ódio e mentira, ódio e mentira, ódio e mentira.
Sufoco.

Nenhuma flor perfura o solo,
não adianta regar o concreto
o duro concreto de quatro anos.

Nenhuma
flor
nasceu
após
o
último
enterro.

Aceitar o vazio
e o desespero
é a única forma de reconhecer-se no espelho.

Esperar não é uma opção,
no fundo do poço só resta subir.


quarta-feira, 13 de maio de 2020

Dos vivos sem vitória

Vossa mercê 
sentava em tronos;
era uma pessoa única, mas
com o tempo
ganhou as ruas.

Vossemercê, 
os de posição mediana
que,
apesar de não serem qualquer um,
poderia caber à todos.

Vosmecê,
por sua vez, não tinha autoridade nenhuma;
contraiu-se
e,
no tempo,
virou o outro “vosmicê”.

Você 
veio para substituir o nome próprio,
qualquer nome
de pessoa-qualquer;

VC 
é frio,
grafia internetizada,
marca da pós-modernidade
e de sua velocidade
e distância.

V” 
é a escolha singular
e intuitivamente simbólica, performática.
“V”, aposto, 
será a nova saudação – deste Brasil pós-pandemia.
“V” serão todos, indistintamente.
“V” não será apenas a nova contração vocabular, mas
também a lembrança de um tempo.

Seremos "V",
os “V-ivos” sem “V-itória,

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Crônica de uma vida isolada

Hoje o dia não termina;
de nada adianta dormir,
mexer no celular
ou procurar um filme para assistir.
A hora ficou presa
e o tempo confunde o ontem com o amanhã.

Tenho vontade de sair,
somente sair,
respirar fundo
enquanto tomo uma cerveja gelada
vendo o Sol se pôr
vendo o Sol nascer.

Sempre quero viver uma vida que não posso, mas
ela nunca pareceu tão impossível.
Quero os passos da rua, os caminhos e as vielas
- do lado de dentro: medo.
Sinto o peso do ar no próprio corpo,
a tensão
e a angústia de um Futuro que não chega.

Quero ficar quieto, mas não consigo
Quero falar, mas não tenho palavras.
Está difícil, 
nada parece bastar. Chorar não é a saída,
por isso,
finjo equilíbrio entre livros que não leio
e músicas que não escuto.

Serei Eu novamente?
Sou apenas avesso. 








sábado, 2 de maio de 2020

Severinos

Severino tem voz, mas
não tem máscara
ou o centavo sobrando
para, descobrindo o futuro, 
comprar Vida
e a morte negar.

Ele que não tem poupança
e mais nada além dos calos,
como poderia,
feito os moços sabido
abandonar o roçado
para ter ciência de tudo aquilo?

Ele, que não tem fiança, 
vive preso ao anonimato
dos dias sobressaltados
e ao Capitão que graceja
por não entender a sutileza
que existe vida na pobreza.  

Severino tem fala, mas
ela não ressoa Planalto;
central não é tuas andanças,
tua penúria ou aspereza 
- 600 vezes dinheiro
é o pouco que valhe na Mesa.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Um “quase-de-Ser”,
Um “modo-de-Ser”
Um “quase-modo” de ser
Um quasímodo de Ser.

sábado, 4 de abril de 2020

Sobreviveremos

Vírus,
ignorancia, 
antipatia,
estupidez.

Monotonia,
solidão,
desejo,
distância.


Mentiras,
descaso,
fome,
economia.


Futuro?

domingo, 29 de março de 2020

terça-feira, 24 de março de 2020

Atotô

Silêncio!

Silêncio, escuta, 
espera. 
Silêncio, segura a fera
e cura
a alma doente.

Silêncio!

Silencio, serena:
a fala
a fé 
a força,
o olhar.
Acolhe...

Silêncio,
caminhe...

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Adiar a inevitabilidade do Não?
Nutrir-se de falsas esperanças?
Procurar os motivos para migalhar atenção?
Não, nada funciona.
Depois de um tempo,
aceitar
é a única condição que resta.

O mundo não é o reflexo do nosso desejo,
tão pouco as pessoas.
Cada um de nós,
sem perceber,
se perde pelas trilhas do trajeto idealizado.
Ninguém muda pela simples expectativa do outro,
seja quem for este Outro.

Não se erra menos com a idade,
erra-se diferente.

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Sobre o Amor

Amar é conversa, 
é soma de olhares
de silêncio;
resumo dos encontros
e também
d e s e n c o n t r o s;

Amar é gesto de combate,
aventura de cismas
avanço sorrateiro
(disperso em pedaços de cor).
                                        
Amar é residir no vento,
no tempo perder-se
e
no beijo - fusion de l'amour
- secar de prazer.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Conselho do desconhecido

Licença, peço, moço.
Atrapalho?

O senhor tem crença? Descrença?
Olha este Santo
que nem pesa tanto
e, no entanto,
na vida é presença:

Sabe,
aquela desgraceira trapaceira
que "sem eira e nem beira"
enlouquece um homem?
Este, guerreiro dos bom, te protege.

Tem este outro, muito conhecido,
que ajuda o coração partido
do "cabra" ferido onde não sangra.

Tem também este aqui,
que encontra o perdido
em troca do pulinho
e de uma oração.

Tem, por fim, deste grande homem,
que parou a guerra, serenou a fera,
fez do Sol irmão
e tem minha devoção.

Sabe, seu moço,
não importa:
o passo,
se o sapato é gasto,
se o ouro é "forte" ou escaço.

Uma hora pesa a pena
e a coluna dobra;
nossa humanidade é falha,
não suporta a prova,
um dia a alma chora.

Se não quer um santo,
tome um espelho, pra olhar de esguelho
e lembrar dos vincos,
que envolve o corpo - que um dia morto
partirá do porto
e não será mais nada não.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Amor infinito

Minha letra procura a forma,
a fôrma, mas
não encontra 
- não te encontro; 
habito um vazio-não
(como teus olhos não-castanhos).

Sou todo verso, mesmo depois,
mesmo...

Amor termina em despedida,
mas
ainda 
hoje 
espero,
silenciosa espera; 
silenciosamente
seguro este desejo
e me escondo,
fantasiado de distância.

Será que me engano?
Quem não se engana?

Minha letra vasculha nossas lembranças
- apenas frio;
nada se impõe. 
Minha letra vasculha
nada há.
Onde estão tuas esquinas?

Compor-me em versos é uma saída,
mas
até quando?

O Amor, sempre me parece maior:
maior que o verso,
maior que  beijo,
maior que o corpo,
maior que a vida.

Já não tenho certeza se aquilo que sei
é mesmo sabido.

Todo Amor
é para sempre amável? Não sei,
parece-me que
o limite do amor é a memória.

Esquecer
é 
o
sustentáculo 
de
toda 
sanidade.

Minha Letra não encontra mais tua fôrma, 
mas
a vontade de Amar ainda tem sua cor:
não-castanha.


depois  sem  dispôs, não-tempo;  passos  sem  paço, não-espaços; ví-vida...