É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
(Drummond - A flor e a náusea)
(Drummond - A flor e a náusea)
Em vão procuro matérias sobre o futuro,
não há futuro. As ilusões
e os achismos
superfaturam
escolhas
e decidem vida-morte.
Em vão
marchamos?
Procuro os traços que organizam o presente, mas
não os encontro.
O erro insone vitima majoritariamente os postos na margem
e o futuro pendula no abismo.
Do planalto ressoam clarins,
loucuras apagam o verde flâmula
e partilham o assombro. O medo grita,
gritamos todos,
mas
e daí? Todos também morrem.
Estanho é vida
e
entranha na veia,
entranha
e decide morte-vida.
Dezessete vezes as mãos reescrevem o passado,
dezessete vezes
pesa sobre a pena o terço de um tempo enlouquecido
- escrevo liberdade e tolamente lê-se vermelho.
Nenhuma flor varou a madrugada
ou o chão de concreto da grande cidade.
Florestas
queimam frente a ignorância e a planície terrena.
Astrólogos mentem,
juízes perjuram,
generais aplaudem
e o capitão realiza a gestão do medo.
A terra de meu País braseia, mas
é do sangue que colore as ruas.
Sem estrelas no céu
e sem vida nos bosques,
o "mais amores" transformou-se em ódio.
Dezessete vezes
ódio e mentira, ódio e mentira, ódio e mentira.
Sufoco.
Nenhuma flor perfura o solo,
não adianta regar o concreto
o duro concreto de quatro anos.
Nenhuma
flor
nasceu
após
o
último
enterro.
Aceitar o vazio
e o desespero
é a única forma de reconhecer-se no espelho.
Esperar não é uma opção,
no fundo do poço só resta subir.