sábado, 19 de março de 2022

Réquem em Libra II

Todo “até logo” carrega em si um bocado de adeus, nunca se sabe até quando - quando, 
aliás, 
é o limite do tempo repleto de possíveis – seu condicionante 
é o material telúrico da própria vida, encarnação da memória do ontem 
e de infinitos amanhãs. Hoje, 
por sua vez,
é tempo sem registro – hoje é a presença sempre ausente, sempre fugidia, é a respiração que tento e não se completa por falta de ar. Ainda sim fantasio no hoje, 
ainda sim fantasio 
no hoje que sobe a montanha
no hoje que queima de amor 
no hoje que se veste de surpresa. 
Logo,
por outro lado,
tem a duração de dois meses; logo tem o profundo tempo do “soneto do Amor total”, logo é todo tempo que escapa do quando, é o tempo palpável  do infinito... Infinito, 
por outro lado, 
é o tempo sem “logo” e
ou “quando” – infinito é o tempo da espera-pura.

Todo “até logo” carrega 
em si 
uma vergonhosa crise fantasiada de medo do abandono, de despedida,  de medo da solidão que espera por todos nós no limiar do tempo. 
Até logo, até nunca mais.

depois  sem  dispôs, não-tempo;  passos  sem  paço, não-espaços; ví-vida...