sábado, 4 de junho de 2022

Um corpo que pesa é um corpo que impõe

Um corpo que pesa é um corpo que impõe

...prefiro 
Sebastião. Reconheço a presença da beleza impávida de Francisco 
esta masculinidade forte, tolamente forte, penso eu, que ainda atrai há tantos. Mas, 
prefiro Sebastião e suas vielas escondidas, seus lugares isolados, sua fala arrastada, suas mãos malandreadas, 
seus dias quentes e também solitários. 

Francisco
é um corpo de santo, mas 
carrega em si
as mazelas da adoração  inócua,
das verdades em gris
e impraticadas; seu corpo
quando pesa sobre o meu, desdenha do meu prazer
e comprime não só as minhas partes – todo meu Ser retesa
em medo
e espanto – sinto-me pudíco entre seus braços.  Sebastião 
é sórdido, tem fama de canalha, mas
não precisa de “mais amor por favor”; Sebastião 
transborda amor – mesmo
sendo a sobra 
das sobras 
das sobras 
depois de 4 tempos do mesmo Estado. 

Francisco, 
por sua vez,
nunca será Chico pra mim, sinto-me preso a este exercício Patriarcal
e soberbo
que ele impõe há séculos (antes 
mesmo 
dos séculos). Não existe Chico de frente ao Chico, teus veios jorram sobre mim
e impõe
o tempo de um império que nunca passou
e que milicía meus sonhos - que desdenha de meus desejos. 
Sinto todo o tempo de não ser Sebastião, sinto
todo o espaço de não ser Sebastião – acostumei-me com sua violência escancarada
e não sei se agüento outro hálito impondo um novo gosto de vida, ou ainda, pior ainda,
outro corpo surrando o meu corpo (desta vez, por dentro,
l-e-n-t-a-m-e-n-t-e, fortemente
como as águas de um rio, de um grande rio)

Francisco é bruto
e Eu 
não consigo mergulhar em tuas águas na busca desta soberana paz
desta soberana beleza
deste reino profundo de calmaria. Sebastião
nunca ocultou suas faces de mim, mostrou-se em ondas,
sem me obrigar a ser outro;
Sebastião me fez e sou todo superfície.

depois  sem  dispôs, não-tempo;  passos  sem  paço, não-espaços; ví-vida...