I - Um recital sobre o tempo
Não acredito no verso que permanece.
O verso
é tintura na mão do acaso,
é
o termo
que
reverbera transformações para longe da mente que o intuiu. De fato,
não acredito em nenhum tipo de permanência
e
sempre espero a dúvida que brota depois da última dúvida sanada.
O tempo passou por mim quando eu voltava da Poesia
e me
disse
que o texto precisava nascer, mas
que eu não tivesse pressa
que na pressa se morre
que
é preciso aparar as arestas
e esperar - até quando...
II - Eu só quero o Não
O tempo das coisas ressoa no tempo das próprias coisas
e aprumam-se
em
seu limite de infinitas possibilidades frente as nossas marcas infinitas
e aos infinitos gozos
e as dores que nunca passam
(em suas noites frias
e também infinitas).
O verso é infenso ao tempo,
sua composição telúrica
seu devir-memória
é o registro
do que nunca foi,
do que nunca vai;
ele
é o todo desejo
deslocado,
imparcial,
respirando entre as suas letras e os espaços.