domingo, 21 de agosto de 2022

Jóquei

acordei,
já era tarde,
troquei o almoço pelo fino trato da aurora;

não me desabotoei das lembranças,
quis o filme tolo
e a cerveja estupidamente gelada;

não resisti.
Folheando o livro da Campilho
retornei:

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Um corpo que pesa é um corpo que impõe - II

: e o coração acelera, a respiração falta, o corpo treme

... e Chico repousa suas águas nos pés do outro
e acalma seu corpo com o Frio, com
O-frio
que emana de sua impávida beleza ancestral. 
 
bem depois,
na velha manhã que atravessa a também velha cortina
eles acordam
e no espelho
o
resultado
das ásperas mãos de Chico sobre meu corpo frágil,
do áspero beijo-encontro tolamente permitido
da alma (minha antes-alma) que agora exaspera de paixão
e descontrole;
no espelho
o resultado-idealizado de um momento que é sempre-espera.
 
depois, bem depois dos dias,
já cansado de sentir o peso do teu corpo movimentando-se sobre o meu,
na segunda manhã após o tempo infinito e já sem cortinas
só ele acorda
só ele se veste
só ele se banha
só ele é espelho
só ele
e eu-só.


segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Café no fim da tarde

I - Um recital sobre o tempo

Não acredito no verso que permanece.

O verso 
é tintura na mão do acaso,
é 
o termo 
que 
reverbera transformações para longe da mente que o intuiu. De fato, 
não acredito em nenhum tipo de permanência
sempre espero a dúvida que brota depois da última dúvida sanada. 

O tempo passou por mim quando eu voltava da Poesia
e me
disse 
que o texto precisava nascer, mas
que eu não tivesse pressa
que na pressa se morre 
que
é preciso aparar as arestas
e esperar - até quando...


II - Eu só quero o Não

O tempo das coisas ressoa no tempo das próprias coisas
e aprumam-se
em
seu limite de infinitas possibilidades frente as nossas marcas infinitas
e aos infinitos gozos
e as dores que nunca passam 
(em suas noites frias
e também infinitas).

O verso é infenso ao tempo, 
sua composição telúrica
seu devir-memória
é o registro 
do que nunca foi,
do que nunca vai; 
ele 
é o todo desejo
deslocado, 
imparcial, 
respirando entre as suas letras e os espaços.

depois  sem  dispôs, não-tempo;  passos  sem  paço, não-espaços; ví-vida...