segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Poema pessoal

...quero aprender-me numa língua nova, 
conhecer-me 
num mundo novo, mas
acostumo-me
- meu texto é cansado.

Ontem 
            teve Sol, não vi;
            teve samba, não fui;
            teve dança, não sei; 
            teve riso, fui eu.


sexta-feira, 14 de julho de 2023

Novela da vida humana

Não tenho problemas com meus delírios, importa-me 
apenas
que sejam de amor
ou das infinitas possibilidades de controlar o tempo e de morar no instante. 

Não tenho dificuldades com a morte. 
Morro 
sempre
com as despedidas não quistas, 
com os lamentos-solitários 
e com a força que faço para esquecer das coisas. 

Importo-me
em não morrer de gozo 
ou no passado caudaloso e "ancorante". 
Escolher onde se morre é a única forma de liberdade-possível. 

Há muito tempo o Sol nasce 
e
por muito tempo ele ainda irá nascer. Eu não. Não existia antes deste poema, tão pouco
existirei 
por muito tempo depois das palavras secarem (e elas secarão). 
Somos um acumulado de memória em desgaste nada-infinito. 

Um esposo qualquer
do prédio
               pulou
e,  ainda assim, manteve-se vivo; um outro
simplesmente deixou de acordar.

Uma filha fugiu do mundo
e hoje ela é só-casa; 
uma outra mora na Alemanha
e vai todo dia ao parque.

Esperar com leveza, 
escutar com fervor, 
sonhar  com limites,
viver sem orientação 
- ensaios de vida me transformam naquilo que [jamais] serei. 

Nada é superior aos dias. Por outro lado, 
todas as estradas terminam no fim da história descolorindo:
os asteroides com rosas solitárias,
os lírios do campo,
a clareza dos enigmas,
os corpos em aprendizagem e
a tabacaria-severina. 

O menino que não queria crescer sempre cresce.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

O corpo que pesa é um corpo se impõe III

Sob tua ponte ensolarada
pendula

antigo corte-seco-pulso que já não é mais corte,
que 
já não é paisagem
e nem é saudade;
 
Sob tuas águas santas, 
versifico
a cura-seca
que 
é só labuta,
que 
é só canção,
que 
não é mais visita, nem é tristeza.
 
O chá das cinco, o café 
dos dias e a cerveja das noites. 
A doce esperança-presença me fez casa

o corpo no espelho já não é só corpo,
ele é também estrada-fim.
 
O passado anda-vive, mas
o futuro abraça. O passo de dez anos
é a rede
na fria manhã de outono
e em todas que ainda estão por nascer.

Sob tuas ruas, 
pela primeira vez,
caminho
também 
as 
minhas 
pegadas.

O cansaço-triste,
a revolta-tola,
o desespero-imóvel 
– tudo poeira retornando ao vento.
O tempo-certo 
é 
sempre
o certo do próprio tempo.
 
Florescer sertão,
apaziguar Francisco,
respirar futuro,
viver nordeste.
 
Sou Chico,
não poeta.   

segunda-feira, 29 de maio de 2023

Se eu me sobrevivo
como saber se canto ou morte,
se dor ou gozo?

Se eu me sobrevivo
como saber se letra ou lágrima,
se sorriso ou lamento?

Gostaria de ir-me, por inteiro;  
pode ser por metades, 
por partes, 
desde que eu-me-vá.

depois  sem  dispôs, não-tempo;  passos  sem  paço, não-espaços; ví-vida...