sexta-feira, 14 de julho de 2023

Novela da vida humana

Não tenho problemas com meus delírios, importa-me 
apenas
que sejam de amor
ou das infinitas possibilidades de controlar o tempo e de morar no instante. 

Não tenho dificuldades com a morte. 
Morro 
sempre
com as despedidas não quistas, 
com os lamentos-solitários 
e com a força que faço para esquecer das coisas. 

Importo-me
em não morrer de gozo 
ou no passado caudaloso e "ancorante". 
Escolher onde se morre é a única forma de liberdade-possível. 

Há muito tempo o Sol nasce 
e
por muito tempo ele ainda irá nascer. Eu não. Não existia antes deste poema, tão pouco
existirei 
por muito tempo depois das palavras secarem (e elas secarão). 
Somos um acumulado de memória em desgaste nada-infinito. 

Um esposo qualquer
do prédio
               pulou
e,  ainda assim, manteve-se vivo; um outro
simplesmente deixou de acordar.

Uma filha fugiu do mundo
e hoje ela é só-casa; 
uma outra mora na Alemanha
e vai todo dia ao parque.

Esperar com leveza, 
escutar com fervor, 
sonhar  com limites,
viver sem orientação 
- ensaios de vida me transformam naquilo que [jamais] serei. 

Nada é superior aos dias. Por outro lado, 
todas as estradas terminam no fim da história descolorindo:
os asteroides com rosas solitárias,
os lírios do campo,
a clareza dos enigmas,
os corpos em aprendizagem e
a tabacaria-severina. 

O menino que não queria crescer sempre cresce.

depois  sem  dispôs, não-tempo;  passos  sem  paço, não-espaços; ví-vida...