Já não havia mais horas nos ponteiros do relógio.
O
tempo, bailando sobre mim
delineava
um emaranhado de estradas,
de
corpos
e
de esquinas que não virei.
No
final de todos os caminhos
(Inexplicavelmente
unidos),
um
Anjo me sorria contente
e
um demônio timidamente também sorria.
Já não existiam mais janelas para se abrir,
portas
para trancar
ou
vontade para morrer - eu Era sem saber Ser.
Sufocando,
sufocado, perdi-me silêncio
e
desespero,
eram tantos equívocos, tantas
escolhas infundadas.
O
Anjo já não sorria mais.
Um pouco de chá para serenar,
um
pouco de café...
Há
como serenar o silêncio?
Ele
controla, impõe
e
sufoca...
Um
comprimido para acalmar?
Nada
acalma e já não quero mais entorpecer.
Eu
falo.
Grito, grito bastante, mas
ninguém
me escuta para além das paredes.
O
demônio enxuga as próprias lágrimas.
O sono me chega,
as
horas continuam imóveis, mas
o
desespero se rende ao cansaço
e cansado,
procuro
meu leito: vazio, apenas vazio.
No
meio de tantos corpos,
no
meio de tantas histórias,
como
num livro de Clarice,
permaneço parado na porta esperando
-
Anjo e demônio fitam o horizonte.
Um raio de luz atravessa a cortina
e
me encontra. Desde quando?
Chovia
ainda agora,
era
noite,
a
profunda noite daqueles que sofrem.
Daqueles
que enlouquecem no silêncio?
Anjo
e demônio sorriam novamente...
Perdido, procurado os cantos da casa,
me
i
s
o
l
o
Sou
todo canto agora,
nada
de encanto
nada
de
nada,
nada
além de mim...
Sem
anjos ou demônios.
O
Sol invadiu meu apartamento, inundou meu corpo
e
fez mover os ponteiros do relógio.
A
noite passou
e
nenhum corte encontrou meu pulso.
No
espelho do armário percebi meu rosto,
não
estava mais sozinho.