quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Os quatro tempos do amor

O amor acabou.
Sem fazer alarde, sem fogos de artifícios, sem beijos numa tarde/noite de domingo, 
ele 
simplesmente 
se 
foi. 

A espera foi longa, 
dolorosa, 
absolutamente intransponível 
até que me chegasse o tempo de ir além do Amor. Aliás, além é uma coisa que não me toca neste momento;
contrariamente, 
estou preso no tempo deste sentimento que não existe (?) e reviso minha vida na busca pelo vazio.

Fundamental para o desamar seria não sentir. Não sentir o cheio do perfume, do corpo, do hálito. Haverá, um dia, 
que canções não falem de quem se ama?

Uma interrogação é sempre um jeito de seguir, de terminar um parágrafo, de terminar uma aula ou palestra, mas 
jamais de terminar um amor. 

Amor pede exclamação, intensidade, quiçá ódio. 
Aquém de toda intensidade, ainda me fustiga na alma as respostas indolentes e as magérrimas decisões: 
é impossível ser feliz sozinho.

Precisei de quatro anos para entender (ainda que parcialmente) a dinâmica da vida 
e, 
de posse de todo arrependimento afirmo: ela não falha. 


final 
de nossa história já esta premeditado, nossos passos atestam apenas a liberdade de escolher nossa queda no abismo – escolhi por companhia o desespero e a solidão. 

A solitude me acompanhou toda vida, desde criança. Recolher-me sempre foi uma forma de encontrar saídas, minha cama era o meu deserto. 
Hoje, 
deito na rede procurando entender o fio que teceu meu destino 
e como, tão abruptamente, esta solitude (tão característica da minha família) tornara-se solidão. 

Em qual estação, 
em qual esquina, 
ficar sozinho tornou-se algo tão imensamente cruel.

A solitude é um desejo do espírito, 
de uma alma que retorna ao seu centro e encontra sua paz, 
a solidão, por outro lado, 
é um afastamento imposto (ninguém escolhe ser sozinho). Por isso, 
não há como centrar-se quando se sai de casa abandonando seu grande amor, 
ainda mais nesta casa, que é agora o constructo de uma “falsa-liberdade” que só aprisiona. 

A solitude liberta, a solidão sufoca. Mas, 
como ressignificar o abandono? 
O Zen-budismo fala da possibilidade de mudar o passado, nesta esperança eu me consumo por inteiro.


Escrever é uma tentativa e, em alguns momentos, um alívio, mas jamais é uma saída. 

Combinar letras, 
pontos, 
espaços 
e sentimento, 
é a maneira perfeita de destruir e criar mundos novos. 

Escrever sobre o “amor de ontem” é uma maneira de gastar a angústia e, 
por conseqüência, 
deixar às claras aquilo que eu sempre quis entender.

Sou todo perguntas.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Outra vez a fome

Outra vez atravesso em tua boca o frio da noite.
Outra vez teus braços tocam meu espírito
e marcam minhas costas.

Passeio com minhas mãos pelo seu corpo
e deslizo por cada ímpeto de curva...

Acarinho levemente teus mamilos,
seguro teus cabelos,
me guio no sabor do ventre
- que visito profundamente,
até não caber mais de mim.

Encontro sua nuca,
deixo marcas em teu pescoço
e arrepio em tuas costas.
Teu gemido perde-se num tempo qualquer.

Extasiado sorrimos
- a fome de querer nos assola.




Um pouco de mundo

Um pouco de tudo é negação,
outro pouco é prece
e espera
de um mundo sempre a esperar.

Um pouco da vida é guerra,
vestígios da fera,
a espera do motivo santo
ou nem tanto
- vertiginoso pranto de Marília sem Dirceu.

Em vão discuto os meus,
os seus
e o após.

Um pouco de tudo é esperança,
maldita criança que nunca cresce
e que se esquece por isso
que outro pouco
é agonia,
desprezo,
angústia: tragédia a acontecer.

Um pouco do mundo é desistência,
um pouco é estrada
e tempo presente
- postado nas mãos e saturado na retina.

Um pouco do mundo me fez
e outro pouco eu faço acontecer.


segunda-feira, 2 de outubro de 2017

E se...

E se eu tivesse escolhido a estrada de tijolos verdes naquela fatídica manhã?
E se, 
por algum motivo, 
o mundo 
deixasse de ser amarelo?

Deus haveria de me esperar 

me livraria da bruxa má? Mas, 
como ficaria o amém ao final da oração?

E se o País de Aslam, 
em toda sua glória e esplendor, 
fosse apenas uma ficção?

Quantas perguntas dobrando a esquina. 
Quantos pontos de interrogação me acompanham, 
como posso querer responder? 
E será preciso?

E se o inverno tivesse chegado antes do verão?
E se o metrô me deixasse em um mundo repleto de magia?
E se as sinapses fossem emitidas pelo coração?

E se...

Precisaria a Vida de um “leão covarde” se tudo fosse apenas “reto” 

ou “preto no branco”?
Precisaria o Corpo de um “homem sem coração” se houvesse mais respeito com o diferente?
Precisaria a Morte de um “espantalho sem corpo” se ela fosse nossa amiga?

Então, 
como seria tudo se nada fosse?

E se sem estrada, 
sem escolha, 
precisaria a vida ter Vida?

E se a “Terra do Nunca” um dia “fosse”, precisaria eu SER também?

E se o mundo fosse um Asteroide bem pequeno, 

sem rosas ou raposas, 
haveria de ser necessário cativar até mesmo os grãos de areia?

Precisaria precisar de tantas perguntas, 
não sendo Alice a Verdadeira?

Precisaria Macondo 
de um furacão 
se nossa pureza perdurasse?

Voltando as escolhas: 
E se, no final de todas as estradas, 
não fossem sempre condenadas as Estirpes Severinas, 
haveria necessidade de cem anos de solidão?
 
Finalmente,
se todo “se” virasse SIM 
haveria NÃO para nos levar além?

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Minha máquina do mundo se abriu

Já não havia mais horas nos ponteiros do relógio.
O tempo, bailando sobre mim 
delineava um emaranhado de estradas,
de corpos
e de esquinas que não virei.
No final de todos os caminhos
(Inexplicavelmente unidos),
um Anjo me sorria contente
e um demônio timidamente também sorria.

Já não existiam mais janelas para se abrir,
portas para trancar
ou vontade para morrer - eu Era sem saber Ser.
Sufocando,
sufocado, perdi-me silêncio 
e desespero, 
eram tantos equívocos, tantas escolhas infundadas. 
O Anjo já não sorria mais.

Um pouco de chá para serenar,
um pouco de café... 
Há como serenar o silêncio? 
Ele controla, impõe 
e sufoca... 
Um comprimido para acalmar? 
Nada acalma e já não quero mais entorpecer.
Eu falo. 
Grito, grito bastante,  mas 
ninguém me escuta para além das paredes.
O demônio enxuga as próprias lágrimas.

O sono me chega, 
as horas continuam imóveis, mas 
o desespero se rende ao cansaço
e cansado,
procuro meu leito: vazio, apenas vazio.
No meio de tantos corpos,
no meio de tantas histórias,
como num livro de Clarice,
permaneço parado na porta esperando
- Anjo e demônio fitam o horizonte. 

Um raio de luz atravessa a cortina
e me encontra.  Desde quando? 
Chovia ainda agora,
era noite,
a profunda noite daqueles que sofrem.
Daqueles que enlouquecem no silêncio?
Anjo e demônio sorriam novamente...

Perdido, procurado os cantos da casa, 
me 
         i
         s
         o
         l
         o
Sou todo canto agora, 
nada de encanto
          nada 
                   de 
                        nada, 
nada além de mim... 
Sem anjos ou demônios.

O Sol invadiu meu apartamento, inundou meu corpo
e fez mover os ponteiros do relógio. 
A noite passou 
e nenhum corte encontrou meu pulso.
No espelho do armário percebi meu rosto,
não estava mais sozinho.


sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Saudade infinita

O poema prometido tem sabor de Passado,
de tempo passado, de história passada 
- sem passos,
apenas e s p a ç o.
 Parece confuso? Sempre foi... não?

Tua jaqueta de couro
combina com a minha pele,
perfeita junção manifesta.
Como perfeita, alias,
ficou minha camisa rosa em teu corpo
também rosa,
também suave...

Não pedi teu futuro
ou aspirações,
tão pouco tua alma pedi.
Implorei-te apenas um beijo, 
quis teu hálito
e depois... Talvez,
quem sabe,
fosse apenas a esperança 
de te ver ceder e me aquecer 
- Fazer o tempo parar?

Tudo mudou, não nego.  Nego 
apenas 
que não desejo
que não te quero
que não te espero. Mas, 
porque me negas? 

Meu silêncio já não te encontra mais
e teus olhos castanhos não encontram os meus.

Estou só, preso numa noite que não aconteceu.
E você, 
será que existe para além destes versos?

Cansado, 
agora 
anseio apenas o dia
em que sentirás meu beijo te encontrar,
feito brisa suave e saudade infinita.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Um poema sobre a dama do mundo

Eu ainda caminho, depois
e depois... 
Já não sinto meus pés 
e meus passos também já não encontro
- sou todo horizonte.

Teu quarto
                 é
                    apenas 
                                Lembrança.
Será esperança?

Ainda gosto de ouvir o som da chuva batendo no toldo.
Eu era o Toldo?
Você era a Chuva?
Maldita mania de não se abrir,
de se entregar apenas aos versos.
Já não tenho mais metáforas para decifrar,
apenas o frio de uma noite
                      e um desejo infinito.

Teus pelos castanhos,
tua pele marfim,
o jeito que seu corpo mergulhava no meu. 

Ninguém jamais me olhou como você, 
Ninguém jamais me olhou,
ninguém... 

Escolhi o certo, fui correto, mas
Deus sabe quantas vezes desejei você.
te amei na distância,
             no vazio,
             na saudade que jamais soube apascentar.

Submerso no tempo,
em retalhos
do nosso primeiro instante,
"nos nous aimions
le temps d'une chanson". 

Novela da vida humana

Não tenho problema com meus delírios, importa-me  apenas que sejam de amor ou das infinitas possibilidades de controlar o tempo e de morar n...