quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Outra vez a fome

Outra vez atravesso em tua boca o frio da noite.
Outra vez teus braços tocam meu espírito
e marcam minhas costas.

Passeio com minhas mãos pelo seu corpo
e deslizo por cada ímpeto de curva...

Acarinho levemente teus mamilos,
seguro teus cabelos,
me guio no sabor do ventre
- que visito profundamente,
até não caber mais de mim.

Encontro sua nuca,
deixo marcas em teu pescoço
e arrepio em tuas costas.
Teu gemido perde-se num tempo qualquer.

Extasiado sorrimos
- a fome de querer nos assola.




Um pouco de mundo

Um pouco de tudo é negação,
outro pouco é prece
e espera
de um mundo sempre a esperar.

Um pouco da vida é guerra,
vestígios da fera,
a espera do motivo santo
ou nem tanto
- vertiginoso pranto de Marília sem Dirceu.

Em vão discuto os meus,
os seus
e o após.

Um pouco de tudo é esperança,
maldita criança que nunca cresce
e que se esquece por isso
que outro pouco
é agonia,
desprezo,
angústia: tragédia a acontecer.

Um pouco do mundo é desistência,
um pouco é estrada
e tempo presente
- postado nas mãos e saturado na retina.

Um pouco do mundo me fez
e outro pouco eu faço acontecer.


segunda-feira, 2 de outubro de 2017

E se...

E se eu tivesse escolhido a estrada de tijolos verdes naquela fatídica manhã?
E se, 
por algum motivo, 
o mundo 
deixasse de ser amarelo?

Deus haveria de me esperar 

me livraria da bruxa má? Mas, 
como ficaria o amém ao final da oração?

E se o País de Aslam, 
em toda sua glória e esplendor, 
fosse apenas uma ficção?

Quantas perguntas dobrando a esquina. 
Quantos pontos de interrogação me acompanham, 
como posso querer responder? 
E será preciso?

E se o inverno tivesse chegado antes do verão?
E se o metrô me deixasse em um mundo repleto de magia?
E se as sinapses fossem emitidas pelo coração?

E se...

Precisaria a Vida de um “leão covarde” se tudo fosse apenas “reto” 

ou “preto no branco”?
Precisaria o Corpo de um “homem sem coração” se houvesse mais respeito com o diferente?
Precisaria a Morte de um “espantalho sem corpo” se ela fosse nossa amiga?

Então, 
como seria tudo se nada fosse?

E se sem estrada, 
sem escolha, 
precisaria a vida ter Vida?

E se a “Terra do Nunca” um dia “fosse”, precisaria eu SER também?

E se o mundo fosse um Asteroide bem pequeno, 

sem rosas ou raposas, 
haveria de ser necessário cativar até mesmo os grãos de areia?

Precisaria precisar de tantas perguntas, 
não sendo Alice a Verdadeira?

Precisaria Macondo 
de um furacão 
se nossa pureza perdurasse?

Voltando as escolhas: 
E se, no final de todas as estradas, 
não fossem sempre condenadas as Estirpes Severinas, 
haveria necessidade de cem anos de solidão?
 
Finalmente,
se todo “se” virasse SIM 
haveria NÃO para nos levar além?

Novela da vida humana

Não tenho problema com meus delírios, importa-me  apenas que sejam de amor ou das infinitas possibilidades de controlar o tempo e de morar n...