sábado, 27 de novembro de 2021

O corpo poético-filosófico

"É o corpo, portanto, que se esforça para extrair encontros do acaso e, no encadeamento das paixões tristes, organizar os bons encontros"
(Deleuze, Espinosa e o problema da expressão)

O beijo
ancora o tenso-firme 
e o gosto-raro 
aclara
a fome-pura pretéritamente-imperfeita. 

O  terço
reluz o suor-ritmo
e o acaso-cor
encontra
o tempo-gozo pretéritamente-futuresco. 

O corpo
registra o peso-marca 
e a saudade-estrada
desenha
a possibilidade-nós futuramente-subjunta. 


 

domingo, 7 de novembro de 2021

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Poema falso

Quero sentir o nós no teu corpo, 
sentir o nós no teu gosto,
o nós no teu quadril,
nós no teu nós,
no teu Eu,
teu gozo,
você.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Paisagens-letras, 
rios-palavras,
reinos-expressões, 
silêncio-significado. 

Lá, 
entre os meus,
procuro 
a forma infinita do fazer infinito do texto infinito.

Lá, 
com o-deus,
procuro
a presença infinita da poesia que me completa. 

Lá se vive.  

sábado, 16 de outubro de 2021

Pessoas Gaivotas

Dois poemas escaparam de mim esta noite, eram gaivotas
pairando sobre o Oceano de pensamento, 
se foram...

Gosto dos textos que ficam 

daquilo que fica deles em mim. 

Tenho preguiça com textos que não querem ser escritos,
deixe-os
como eles me deixam. 

Pessoas são textos: 
pessoas-prosas
pessoas-poesias.

Existem pessoas gaivota. 

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Pesando sobre meu corpo, teu corpo
profundamente-quente,
profundamente-rijo,
profundamente-posse.

Pesando sobre meu corpo, 
tua pele grossa,
teu suor pesado,
tua voz agreste.

Pesando,
meu desejo livre
e minha fome-entrega,
meu sorriso-paz. 

segunda-feira, 9 de agosto de 2021

O terço forte já não reza mais,
pendurado
finge proteger uma casa sem fé. ‘
 
A pena já não escreve mais poesia,
inexpressivamente
tessitura apenas lembranças que nunca aconteceram.
 
O corpo já não é um corpo, é forma e medo. 
Só se fala medo,só se grita medo, só se expressa medo. Ele 
tomou as estrelas,
as riquezas, as florestas e todo Oceano.  
 
O medo é a forma que organiza os homens, de solidão
vestiu-se de festa 
e passeia pelas ruas. 
 
Dezessete vezes,
o medo da despedida
o medo do ponto de ônibus
o medo do “até-adeus".

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Diálogo

"É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio"
                                                                             (DRUMMOND)

Uma flor, solitária flor, 
ultrapassa o asfalto
e o tédio dos arranha-céus, 
cotidiano.
 
Uma flor, solitária flor, 
ultrapassa o peito
e o eu-concreto do mundo-concreto,
Poesia.

Da poesia

                                                         "Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro
                                                           são indiferentes"
                                                           (DRUMMOND)


A gota de bílis não é poesia, mas
também 
não é letra vazia, signo vazio, 
ela é texto
existe uma história por detrás
e, que,
por isso mesmo,  espera – distraidamente – o sentido-forma-corpo-poema. 

O sorriso não é poesia, mas
o texto que escapa dele pode ser;
o corpo, 
infundado corpo, também não,
mas...
 
Uma coisa é a Vida
e outra coisa, 
entre tantas, é a Poesia. Não confunda: 
letra com palavra,
texto com poema
e verso com liberdade.

A Vida não cabe no texto
a poesia também não, ela se esconde
e elide, no bendito espaço-silêncio que separa uma palavra da outra,
o reino infidável sem formas e prenho de significados.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Das possibilidades

Dois pontos, toda história deveria terminar assim – preparando uma espécie de anotação, de acréscimo, para o tempo que virá. Todas as coisas voltam,
nada
e-fe-ti-va-men-te 
passa.
Todas as coisas perduram, como lembrança,
como tristeza, como sorriso, como amparo. Baltazar retorna,
talvez nunca tenha ido (ou estado?). As coisas nunca foram claras, apesar
de
claríssimas serem as possibilidades. Uma casa nova, um apartamento novo
e a promessa de um futuro em par.  
 
O tempo que passa atravessa as cidades – aproxima quem “desaproxima”. Toda vida,
sempre
tempo novo.
 
A casa nova. O mundo novo. A vida. 
A vida nova. A vida nova. A vida nova. O mesmo eu,
a mesma solidão que se esforça na busca de viver por três, 
por três tempos,
por três vidas.
Eu um só.
 
As coisas são como são até não serem mais. Parece óbvio, mas não é tanto. Nada é tanto, nunca é tanto, até ser. Há um limite para os planos,
para as expectativas, deixar-me boiando sobre elas é uma forma de ser infinito. Preciso aprender...
 
O tempo que chega é Silêncio e nele, como ensina Clarice, habitam todas as minhas marcas. Nele,
os passos de Baltazar
trazem a lembrança de uma vida pregressa – um tempo que jamais foi, mas
que sempre poderá ser. Nele,
neste silêncio repleto de lembrança,
reside o tenso sabor do Amor infinito. Ainda há tempo, tempo e vida. Somos infinitos até nãos sermos mais, até o silêncio-deus
nos consumir em mirra e silêncio.
 
Silêncio é o tempo que habito, tempo de espera
tempo de preparo,
tempo de tempo puro.
 
Baltazar retorna, foram as impossibilidades.

sábado, 12 de junho de 2021

A vida 
deu certo manhã
deu errado noite.
 
Maldita vida 
não acerta erros
não amanhece noites.


sábado, 15 de maio de 2021

Poeminha da Alteridade

Eu, se não nascesse Eu, nasceria 
Outro; seria radicalmente outro-eu,  
sem nenhuma semelhança. Então,  como posso 
condenar um Eu  
que poderia ser o meu, 
se nasce Eu ao invés de outro-eu, 
por ser exatamente o Eu que ele é? 

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Engenho

Passeio sobre teu corpo em cada sonho que tenho, mas já não sei se sonho ou se acordo. Antes,
talvez 
o Terço tivesse feito algum efeito, mas
nada te afasta
ou
aproxima - você permanece.  

Um pouco de fobia transforma convenções em pontes intransponíveis
e
a chave esquecida (enterrada na areia, 
escondida na areia, vivemos na areia, ficamos na areia) grafa 
a memória de um tempo não cumprido. Longe
é a estrada que persigo, que atravesso poeticamente; 
longe demais,
talvez,
tenha ido minha a esperança – não me parece sanidade fotografar o amor. Aliás, 
como é possível não amar um amor que se sentia sem saber que já era Amor?

Sofro como sofrem todos, nenhuma gota além; 
querer-te 
não é prisão - apenas sonho, 
apenas encanto, apenas distraio meu tempo na busca pelo amanhecer das tuas mensagens.

Ontem é tempo de aprendizado,
ontem sonhei com você,
ontem acordei em paz 
e
só por isso escrevo. 

Uma parte de mim mantém-se quieta, 
medrosa parte que confunde solidão com liberdade; 
outra parte minha se expõe
e dedilha em versos (ocultos-versos, 
escancarados-versos) 
a beleza da espera. Sou todo Espera.

Amar 
você tece Estrada, 
eu Poesia.


Uma tese sobre a morte, uma tese sobre a vida

I
o verso não escrito
o tempo que não chega
o corpo que não alcanço 
a boca não-encontro
 
a saudade que não destilo 
o espaço que não ocupo
o Lembrar que não acalma 
o Amor que não amanheço
 
II
O verso escrito
O tempo que chega
O corpo que alcanço
A boca-encontro
 
a saudade que destilo 
o espaço que ocupo
o Lembrar que acalma 
o Amor que amanheço

domingo, 25 de abril de 2021

Poema de despedida

Entre tuas mãos aconchego;
entre  
tuas coxas casa
e teus braços fogo

- eu ficaria se você pedisse. 

Entre os futuros da estrada;
entre
o olhar dos filhos
e do encanto música

- eu ficaria se você pedisse.

No sorriso benção,
no silêncio medo.

sábado, 24 de abril de 2021

“Um pouco de possível, senão eu sufoco”

(Deleuze)

Um pouco
deste canto grito,
deste verso estrada,
desta mão-revolta,
desta mente-assombro,
deste sangue-cais.
 
Um pouco
deste canto imenso,
deste verso Casa,
desta mão sossego,
desta mente pura,
deste sangue-mar.

segunda-feira, 12 de abril de 2021

O poeta e a Cura

Confesso
verso faca alívio,
verso-terço-puro,
que retina tempo espelha.
 
Confesso
gosto gozo infindo,
gosto-corpo-culpa,
que pecado santo arvora.
 
Confesso
cura presa angústia,
cura-serra-sonha,
que temporal brisa encontra.

sábado, 20 de março de 2021

Só queria alguém

que me amasse-corpo
que me amasse-sonho
que me amasse-alma
que me amasse-riso
que me amasse-gosto
 
que me odiasse-raso
que me odiasse-sono
que me odiasse-calma
que me odiasse-medo
que me odiasse-tédio
 
que me amasse-ódio
que me odiasse-amor

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Foram as impossibilidades

vírgulaneamente, com licença de Clarice,
começo um texto
e,
como Lori,
também com café,
procuro a epifania simbólica que demarca a presença do amor: silêncio-deus; amor-deus.  
Ulisses se foi, Baltazar também, restou
apenas
o amargo vazio das impossibilidades: a vida urge.
 
Urgimos nós:
por esta ausência sem nome,
por este espaço sem corpo,
por este beijo sem boca,
por este peso sem paixão.
Nós?
Baltazar se foi: a vida passa.
 
Passaria talvez,
se a vida fosse vida, mas
sendo apenas dias
todos são iguais
e,
em nenhum deles,
escuto o barulho dos teus passos no corredor ao lado.
 
Se este vazio é
o “silêncio-deus” e “amor-deus”,
porque lacera-me tanto?
 
Seria o Amor,
mesmo estes
que começam com vírgula,
um “deus-em-si”
feito
para ser adorado na crueza dos nossos próprios corpos?
 
Não sei.

Lóri não me responde, Ulisses retornou.
Baltazar se foi...

Há também um tempo para o Amor?   

 

depois  sem  dispôs, não-tempo;  passos  sem  paço, não-espaços; ví-vida...