sábado, 15 de maio de 2021

Poeminha da Alteridade

Eu, se não nascesse Eu, nasceria 
Outro; seria radicalmente outro-eu,  
sem nenhuma semelhança. Então,  como posso 
condenar um Eu  
que poderia ser o meu, 
se nasce Eu ao invés de outro-eu, 
por ser exatamente o Eu que ele é? 

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Engenho

Passeio sobre teu corpo em cada sonho que tenho, mas já não sei se sonho ou se acordo. Antes,
talvez 
o Terço tivesse feito algum efeito, mas
nada te afasta
ou
aproxima - você permanece.  

Um pouco de fobia transforma convenções em pontes intransponíveis
e
a chave esquecida (enterrada na areia, 
escondida na areia, vivemos na areia, ficamos na areia) grafa 
a memória de um tempo não cumprido. Longe
é a estrada que persigo, que atravesso poeticamente; 
longe demais,
talvez,
tenha ido minha a esperança – não me parece sanidade fotografar o amor. Aliás, 
como é possível não amar um amor que se sentia sem saber que já era Amor?

Sofro como sofrem todos, nenhuma gota além; 
querer-te 
não é prisão - apenas sonho, 
apenas encanto, apenas distraio meu tempo na busca pelo amanhecer das tuas mensagens.

Ontem é tempo de aprendizado,
ontem sonhei com você,
ontem acordei em paz 
e
só por isso escrevo. 

Uma parte de mim mantém-se quieta, 
medrosa parte que confunde solidão com liberdade; 
outra parte minha se expõe
e dedilha em versos (ocultos-versos, 
escancarados-versos) 
a beleza da espera. Sou todo Espera.

Amar 
você tece Estrada, 
eu Poesia.


Uma tese sobre a morte, uma tese sobre a vida

I
o verso não escrito
o tempo que não chega
o corpo que não alcanço 
a boca não-encontro
 
a saudade que não destilo 
o espaço que não ocupo
o Lembrar que não acalma 
o Amor que não amanheço
 
II
O verso escrito
O tempo que chega
O corpo que alcanço
A boca-encontro
 
a saudade que destilo 
o espaço que ocupo
o Lembrar que acalma 
o Amor que amanheço

depois  sem  dispôs, não-tempo;  passos  sem  paço, não-espaços; ví-vida...