As coisas que passam redigem - no tempo e no espaço - o resultado da vida que não vivemos
que não soubemos escolher. A cada esquina virada, a cada café sortido, a cada promessa não cumprida,
apaga-se
imediatamente
a possibilidade de um caminho que nunca chegou a ser criado. Não,
não
não
somos apenas o resultado daquilo que foi experenciado, mas também
uma porção significativa daquilo que escolhemos deixar para trás. Viver não é tecer o próprio caminho, mas
aceitar
o trajeto construído quando se rejeita as estradas que se abrem a cada passo dado
e, por isso,
todo "aprendizado"
é
a
tese acabada de um resultado fortuito
que não poderia ter sido outro
que nunca poderá ser outro
que não poderia ter sido outro
que nunca poderá ser outro
que só poderia ter sido outro se fôssemos outro também.
Não existe beleza nas coisas que nunca foram.
Nunca é signo vazio, mundanidade pura. Prefiro
as infinitas possibilidades do tempo que ainda tenho
ao
manso regaço dos tempos de outrora e suas lembranças embaçadas.
Somo infinitos, mas
apenas quando mantemos o desejo aceso, a chama acesa, o verso que acende
e
negamos a lembrança que apaga a vontade de Vida.
Aceitar meu passado não me obriga adorá-lo
ou
esculpir uma beleza que ele não possui.
O amor não é um lago, suas águas não esperam paradas
e continuaram paradas quando sairmos dele.
O amor é um Oceano,
interferido pela presença dos amantes
- até que seus corpos se confundam com sua ausência de limites.
O amor
é um Oceano
que espera ser desbravado
por erros-certezas-ausências-desculpas-coragem
ou
medo.
As coisas que passam não me ensinam nada além de passar, mas
As coisas que passam não me ensinam nada além de passar, mas
eu não passo.
Prefiro não passar. Prefiro
ter
a
exata
ciência
do
passo
após
o
outro
passo.
Prefiro ter nas mãos a mudança que quero
e reconheço a vida como aliada, não juíza.
Prefiro manter-me infinito (até não poder mais).